segunda-feira, 5 de maio de 2014

Conceito de justiça, Alice no País das Maravilhas

Uma das ideias que este conto pretende transmitir é a ideia de justiça. O conceito de justiça pode considerar-se muito relativo pelo facto de uma situação poder ser considerada justa para uns e injusta para outros. Ora é isso mesmo que acontece neste conto.

No capítulo III o Rato conta uma história a Alice pretendendo demonstrar-lhe a razão pela qual não gostava de cães. Nesta história o Rato relata que um dia, quando Fúria (uma cadela) o encontrou no quintal, acusou-o de injúria e por isso deveria ser julgado no Tribunal. Entretanto, o Rato repara que não havia juiz, nem jurado para resolver este caso. Fúria não tardou a apresentar-se como juiz e jurada, o que no País das Maravilhas foi aceite e considerado justo. Num caso normal isto nunca aconteceria.

Outra situação onde se pode verificar a diferença entre a justiça no real e no País das Maravilhas é no capítulo XI, onde o Valete é acusado pela Rainha de roubar as suas tartes injustamente, pois na verdade, ele não tinha cometido tal acção. O Valete foi a Tribunal apesar de não existirem quaisquer provas ou testemunhas. Sempre que alguém contrariava a Rainha, era imediatamente mandado decapitar.

No País das Maravilhas não há qualquer sentido de justiça, pois a justiça deve respeitar certas leis às quais estão estipuladas numa Constituição, o que não acontece neste país.Este conto pode ser entendido como a transição de criança para adulta, daí a instabilidade emocional de Alice e a sua crise de identidade.

No capitulo XII, quando Alice está no tribunal e, segundo a rainha, cresceu quase 2 km, na minha opinião, isto é uma metáfora, pois nesse momento o que aconteceu à Alice foi a sua transição de adolescente para adulta, o que lhe trousse uma nova visão sobre a vida e uma nova maneira de pensar e de agir.

Esta não é só uma história para crianças, antes pelo contrário. É uma questão sobre o que é a realidade, onde Alice deixa o seu confortável mundo e vai para um mundo de imaginação e fantasia.
Vida Nova, Dante Alighieri

Curiosidade:
Dante, como expoente da literatura universal foi utilizado como referência cultural e didáctica pela autora portuguesa Sophia de Mello Breyner , que o utilizou como personagem no livro infantil-juvenil "Cavaleiro da Dinamarca", onde é apresentado às jovens gerações como alguém que terá tido contacto com realidades transcendentes ou que, não as tendo tido, deixou, ainda assim, uma obra por si mesma transcendente.

Vida do autor:
Dante Alighieri foi um dos grandes poetas mundialmente conhecido.  O seu amor  incondicional e capacidade visionária transformaram-no no mais importante pensador de sua época.
Nasceu e viveu grande parte da sua vida em Florença, região da Toscana, até ser injustamente exilado.
A vida de Dante foi marcada por dores, sofrimentos, lutas pela justiça e pela liberdade.
Pouco se sabe sobre a vida de Dante e a maior parte das informações sobre sua educação, sua família e suas opiniões são geralmente meras suposições. As especulações sobre a sua vida deram origem a vários mitos.
Dante era extremamente religioso.

Resumo do livro Vida Nova

Vida Nova (em latim do original vita nouva) é o obra de juventude do escritor Dante Algherie, escrita provavelmente entre 1292 e 1293.  Apresenta uma sequência de 31 poemas entremeados por comentários e explicações sobre cada poesia, enquanto o autor narra como conheceu Beatriz, ela com oito anos, ele com nove, até a morte dela. Esta obra é uma mistura de prosa e poesia. Dante divide sempre os poemas em partes para uma melhor explicação.

Dante apresenta-se como um poeta saindo da juventude e ainda sob o impacto da morte de sua amada, Beatriz. A história desse amor é rememorada em ordem cronológica, com uma certa precisão.
A narrativa começa com o primeiro encontro com a sua amada Beatriz quando ambos tinham 9 anos ( o número 9 é recorrente nesta obra) e cita: "quando vi pela primeira vez a gloriosa dama de meus pensamentos a quem muitos chamavam Beatriz, na ignorância de qual fosse o verdadeiro nome." "Levava traje de nobilíssima, singela e recatada, cor vermelha e ia cingida e adornada da forma que convinha à sua pouca idade."

Desde aquele encontro precoce com Beatriz, no nono ano de suas vidas, Dante já se sente dominado pelo Amor, já não consegue parar de pensar nela.
O segundo encontro dá-se passado 9 anos, "ocorreu que a maravilhosa mulher me apareceu vestida de alvissíma cor, entre duas gentis senhoras de maior idade.".

Naquele momento os olhares cruzaram-se, ele encontrava-se receoso a observá-la, ela saudou-o (comprimento-o) com a sua inefável amabilidade e doçura. E ele sentiu que nesse momento subiu ao céu, ou seja que tinha atingido um elevado grau de transcendência.
Era a primeira vez que as suas palavras chegavam aos seus ouvidos embragou-lhe tal doçura que, como se tivesse embriagado, num estado de felicidade pura, se afastou das pessoas e foi para um quarto sozinho pensar naquela "delicadíssima mulher".

Dante tinha muitas vezes visões/sonhos principalmente enquanto dormia. Nesse momento teve uma, viu

 no seu quarto uma nuvem cor de fogo que continha um homem que das muitas palavras que lhe disse, ele percebeu estas: "sou o teu senhor". Esse homem trazia nas mãos uma rapariga adormecida, quase nua, apenas vestida de róseo cendal. Olhando com atenção para ela percebeu que era a tal dama que lhe tinha saudado no dia a anterior. E parecia que o homem trazia nas mãos algo que brilhava intensamente e disse-lhe "vê o teu coração". Parecia que esse homem tentava despertar a adormecida, mas ela não acordava então ele passou de um estado de alegria , para pura tristeza, começou a chorar e recolheu a dama nos seus braços parecendo que a levava para o céu.

Angustiado, Dante desperta e, reflectindo sobre o significado do que vira em sonho, resolve escrever um soneto em que registasse o encontro onírico com o deus Amor e com Beatriz, para depois enviá-lo “a muitos que eram famosos trovadores naquele tempo”, pedindo-lhes que decifrem a visão.

Começou a escrever um soneto (sobre essa sua visão) e começou assim: "A toda a alma prisioneira a todo o coração gentil."
A toda a alma prisioneira a todo o coração gentil,
até os quais correndo vai o meu lamento
(e que diga cada um aquilo que sente)
saúde em seu Senhor, ou seja o Amor,
Quase se tinha atingido a hora
em que a luz estelar mais viva nos parece,
quando de súbito o Amor se me mostrou,
e de tal forma que lembrá-lo me horroriza.
Alegre me parecia,
tendo numa das mãos meu coração, e nos braços,
envolta num cendal, minha dama adormecida.
Desperto-a; e desse coração, que ardia,
ela comia, receosa, humildemente.
Vi-o depois afastar-se soluçando.


Este soneto divide-se em duas parte a 1ª saúdo e peço resposta e a 2ª começa em quase se tinha atingido a hora.
Em seguida explicou-o. Fez o mesmo com os outros 32 sonetos que escreveu ao longo da narrativa.

Dante fala do amor por Beatriz como algo inatingível que só se poderá concretizar no mundo espiritual, através do amor e pelo amor.  Beatriz para Dante é a própria simbologia do amor, amor cristalino, divinal e por isto ele a exalta, escreve que não pode compará-la com outra mulher, fazendo referência a algo puro,nobre, forte, transcendente, que não se pode comparar.

 Dante não vê Beatriz como uma mulher a qual se pode tocar, o seu amor é platónico, inatingível e sublime.
Na segunda e mais dramática parte da obra, Dante narra a morte do pai de Beatriz, e posteriormente um sonho profético no qual ele vê a morte da amada.

Em 1290, Beatriz morreu repentinamente, deixando Dante inconsolável.
"Vida nova" nos remete três ideias importantes em relação ao amor: memória, morte e segredo.
Quando Beatriz morre, Dante expressa sua dor através de sonetos em muitos capítulos. Após a morte de Beatriz, Dante começar a se sentir atraído por outra mulher , porém no final do livro, Dante retoma o seu amor por Beatriz e se propõe a não falar mais dela enquanto não tivesse um discurso novo que pudesse continuar exaltando aquela mulher.

Abaixo encontra-se um trecho em que Dante expressa seu amor por Beatriz, exaltando-a:

Tão honesta e gentil, ao nos saudar,
Minha amada aparece em nossa vida,
Que toda boca treme, emudecida,
E os olhos a não ousam contemplar.
Ela se vai, sentindo-se louvar,
Humildemente, de pudor vestida;
Parece que no céu foi escolhida
Para à terra um milagre revelar.
Tão amável se mostra a quem a mira
Que no peito desperta uma doçura
Que só pode entender quem a conhece;
E dos seus lábios emanar parece
Um espírito cheio de ternura
Que vai dizendo ao coração; "Suspira!"
(Alighieri Dante – Vida Nova)

Extra:


Uma outra característica na obra de Dante é o uso do número nove e seus múltiplos, uma referencia à idade Beatriz e Dante quando se conheceram, nove anos mais tarde Dante reencontrou Beatriz . Dante escreveu "Vida Nova" durante nove anos, antes e depois da morte de Beatriz.
Na verdade, Dante só a viu duas vezes. Tanto ele como ela se casaram com outra pessoa. O amor de Dante é, portanto, absolutamente platónico, repete o idealismo dos poetas provençais, para quem a dama amada é uma figura inatingível.

 Por fim, o que mais impressiona na obra de Dante, do ponto de vista do poeta é a seriedade no modo de considerar o Amor, pois ele tem a concepção do amor perfeito. Para ele, o amor em si, não se resume a inteligência ou a qualquer definição física, e sim a uma espiritualidade de sentimentos que são sentidos intensamente.