segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014


No Dia que para Sempre Separámos  do Corpo

No dia que para sempre separámos do corpo,
havia nesse dia sobre o livro de gravuras
um insecto com os breves sinais de uma aranha.

Esperávamos um recado que se fez esperar e
tinha as mãos no rosto e fora meu.
A medo a dor para onde não sei bem levava a dor
o rosto.

Havia tudo um pouco misturado. Antigas cartas
velhos poemas.
Até do outro lado da janela víamos tristes
tristes rapazes jogando a bola,

corpo jogado sob o vento de abril e o de
março.

Dentro do quadro via a camisola de lã branca
e o que de loiro havia do recente sol
via a dor o recado desejado no negro azul
das aves.

Sobre o céu, o mar, esse tinha-lo agora nos novos
olhos.

João Miguel Fernandes Jorge, in "Continentes e Desertos"


Interpretação do poema
Este poema tem como tema central a morte. Apesar de a nunca ter referido diretamente. Neste poema é referido a tristeza e a dor deste acontecimento bem presente nas pessoas, nos objetos e na própria natureza. A tristeza era tão grande intensidade que até parecia que os rapazes que estavam a jogar a bola sabiam desta morte e se sentiam tristes por causa disso. Aqui até parecia que a própria natureza lamentava de tal forma que o cenário parecia tendencialmente negro e escuro onde o claro e brilhante do sol tinham desaparecido, o que representava essa tristeza. Aqui é referido um recado que era esperado e importante. O recado devia ter uma mensagem importante. Esse recado pertencia á pessoa que morreu e que infelizmente  não pode entregar a quem queria entregar e nunca o poderá fazer, sendo agora tarde demais para o fazer, de modo que esse recado, muito provavelmente, nunca será lida pelas pessoas destinatárias, o que agrava o cenário. Aqui neste poema é demonstrado a procura e desespero das pessoas que esperavam esse recado e agora o procuram entre vários poemas e cartas antigas para um último adeus, um último contacto, mas não o encontraram.


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