Desde o nascimento daquilo a que chamamos “humanidade”,
houve sempre a necessidade de ter alguém em controlo que gerisse todos os
outros. Atualmente, na civilização ocidental, predominam regimes democráticos.
Porém, até chegarmos a este ponto de democracia, a humanidade percorreu uma
montanha russa política entre baixos não democráticos, subidas revolucionárias
e pináculos liberais.
Previno:
não assumo qualquer posição política no meu discurso; decidi que não o faria
até saber o suficiente sobre a política (ancestral e atual) de modo a possuir a
capacidade de julgar, comentar e escolher. Porém, tendo, inevitavelmente, algumas
opiniões definidas acerca do tema afirmo: sou contra os regimes totalitários.
Por
um regime totalitário entendo a existência de uma organização governamental
em que os poderes de administração estão concentrados numa pessoa ou num grupo
de pessoas com semelhantes ideais. Deste modo, não há qualquer restrição à
autoridade governamental.
Condeno
esta organização governamental pois, em primeiro lugar, creio que em qualquer
tipo de organização, um dirigente tem de ser eleito consoante a votação do povo
que constitui essa mesma organização (no caso desenvolvido, o povo de um país).
Isto é, enalteço o sufrágio universal, sem qualquer restrição (sexo, raça,
entre outras) senão a idade. O dirigente de uma organização tem de representar
os membros e fazer da voz do povo a sua voz. Tal não acontece num regime
totalitário: as vozes alheias são ignoradas, a única que predomina é a voz do
indivíduo ou conjunto de indivíduos que dirigem quase sempre de forma tirana, o
povo.
Para
contrariar este argumento pode ser dito que também há descontentamento do povo
em relação aos seus dirigentes em países democráticos. Isso será inevitável;
seja pela divergência do povo ou pela incompetência dos dirigentes, nunca
haverá uma total concordância e muitas vezes a voz dos dirigentes democratas
não é a voz do povo que representam. No entanto, algo é certo: foi, de facto,
esse povo que colocou os ditos dirigentes no poder. Não digo que o povo terá
culpa de consequentes conflitos políticos, sociais ou económicos que decorram
da incompetência dos dirigentes eleitos, mas eles foram, efetivamente, eleitos
pelo dito povo de forma “legítima”.
Para
além disto, considerando que nos regimes totalitários há restrição das
liberdades individuais, podendo inclusivamente haver discriminação social,
política ou económico, há violação dos direitos humanos. Mesmo que esqueçamos a
consideração objetiva dos direitos humanos, há violação da dignidade do ser
humano. É a dignidade do ser humano que separa o Homem de um mero ser animado.
Qualquer dirigente que execute esta transformação intrínseca desrespeita da
forma mais deplorável o seu povo, não merecendo de todo o cargo que ocupa.
Uma
forma desta discriminação e infração dos direitos humanos é o favorecimento de
determinadas classes, normalmente as que já são, por natureza, privilegiadas, relativamente
às outras. Isto é equiparável a termos uma mãe ou um pai que favorece um dos
filhos. Tal como estes “pais” não são adequados para a sua função, os
dirigentes governamentais não são de todo aptos para o seu cargo.
Pode
ser dito que os estados democratas também têm favorecimentos sociais sobre a
forma de subsídios e outras medidas sociais. Porém, estas medidas servem para
minimizar diferenças sociais, não para as criar. Se um pai ajuda mais um filho
com dificuldades do que outro que não as tenha, não está a ser “mau pai”, está
a tentar que ambos estejam ao mesmo nível.
Ao longo da história encontramos
exemplos de tirania política e revoltas contra a mesma. No século XVIII, os
franceses revoltaram-se contra um rei absoluto preso no Antigo Regime, uma
Bastilha de pessoas que eram silenciadas por destoarem, uma corte solene dispendiosa,
um regime que favorecia os aristocratas e se suportava no infeliz povo. E
foram, consequentemente, declarados os direitos humanos e dado ao povo
liberdade. No início do século XX, os russos revoltaram-se contra um Czar
detentor do melhor sentido de humor: suportava um país agrícola nos
trabalhadores do campo, no entanto, estes tinham condições deploráveis em que
qualquer tostão que vissem era rapidamente transferido para os bolsos dos
latifundiários. Até Portugal se revoltou contra a monarquia e instituiu a
república. A história prova, assim, que nenhum regime totalitário é promissor
e que acaba por desabar.
Pode ser dito que todas estas
revoluções tiveram consequências nefastas: em França passou a dominar o terror
de Robespièrre e mais tarde Napoleão Bonaparte; na Rússia vingou Estaline, também
opressor tirano totalitário (relembro que a eventual utilidade do Exército
Vermelho só decorre de divergências entre ex-aliados Estaline e Hitler). Em Portugal
instala-se uma república no mínimo problemática e uma consequente ditadura Salazarista. Trata-se da montanha russa política que mencionei anteriormente: a
humanidade, pela imperfeição do ser humano, terá sempre tendência a
problematizar o ideal e instaurar o tóxico. Sucede-se que quando o povo está
revoltado e sente a necessidade de ser ouvido, acaba por confundir os próprios
desejos e as vozes comunitárias com a sua. Haverá sempre alguém que veja na
decadência uma oportunidade de ascensão. Isto passa pelo aproveitamento da
vulnerabilidade que o povo adquire em tempos de mudança. Esta situação não se
afasta muito da propaganda que Hitler infligiu numa Alemanha do pós-guerra humilhada
e em complicações económicas da grande depressão. Recomenda-se cuidado e
análise sistemática e, aqui, a individualização do povo em seres humanos racionais
de opiniões divergentes.
Apesar das eventuais
consequências nefastas das revoluções referidas (que acabaram, inclusivamente,
por serem atenuadas), em todas delas há raios de esperança que se propagaram beneficamente
até a atualidade: a implementação dos direitos humanos, a instauração da
república em Portugal (à qual regressou após a ditadura) e ideais de
valorização da igualdade do socialismo russo (admito existir essa luz nos
conceitos marxistas).
Para além de tudo isto, defendo
categoricamente a paz como a mãe da estabilidade. Baseando-me na história, todo
o totalitarismo origina um consequente conflito armado (revoluções
apresentadas, segunda guerra mundial, entre muitos outros), originando
causalidades eminentes que perturbam, segundo o meu raciocínio, o equilíbrio da
vida, ainda que esta seja subjetiva.
Em suma, nego o totalitarismo
pela infração dos direitos humanos, pelo contraste exponencial entre o
dirigente político e o povo que deveria representar, pelo silenciamento do povo
que sustenta o próprio país, pela discriminação social tirana recorrente no totalitarismo,
pela iminente perturbação da paz que origina e pela tendência que tem a falhar
por inaptidão. Que se ergam dirigentes, mas que se ergam por escolha do povo e
que trabalhem em função do mesmo (a utopia).