quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Totalitarismo: felizmente destinado a falhar

Desde o nascimento daquilo a que chamamos “humanidade”, houve sempre a necessidade de ter alguém em controlo que gerisse todos os outros. Atualmente, na civilização ocidental, predominam regimes democráticos. Porém, até chegarmos a este ponto de democracia, a humanidade percorreu uma montanha russa política entre baixos não democráticos, subidas revolucionárias e pináculos liberais.
            Previno: não assumo qualquer posição política no meu discurso; decidi que não o faria até saber o suficiente sobre a política (ancestral e atual) de modo a possuir a capacidade de julgar, comentar e escolher. Porém, tendo, inevitavelmente, algumas opiniões definidas acerca do tema afirmo: sou contra os regimes totalitários.
            Por um regime totalitário entendo a existência de uma organização governamental em que os poderes de administração estão concentrados numa pessoa ou num grupo de pessoas com semelhantes ideais. Deste modo, não há qualquer restrição à autoridade governamental.
            Condeno esta organização governamental pois, em primeiro lugar, creio que em qualquer tipo de organização, um dirigente tem de ser eleito consoante a votação do povo que constitui essa mesma organização (no caso desenvolvido, o povo de um país). Isto é, enalteço o sufrágio universal, sem qualquer restrição (sexo, raça, entre outras) senão a idade. O dirigente de uma organização tem de representar os membros e fazer da voz do povo a sua voz. Tal não acontece num regime totalitário: as vozes alheias são ignoradas, a única que predomina é a voz do indivíduo ou conjunto de indivíduos que dirigem quase sempre de forma tirana, o povo.
            Para contrariar este argumento pode ser dito que também há descontentamento do povo em relação aos seus dirigentes em países democráticos. Isso será inevitável; seja pela divergência do povo ou pela incompetência dos dirigentes, nunca haverá uma total concordância e muitas vezes a voz dos dirigentes democratas não é a voz do povo que representam. No entanto, algo é certo: foi, de facto, esse povo que colocou os ditos dirigentes no poder. Não digo que o povo terá culpa de consequentes conflitos políticos, sociais ou económicos que decorram da incompetência dos dirigentes eleitos, mas eles foram, efetivamente, eleitos pelo dito povo de forma “legítima”.
            Para além disto, considerando que nos regimes totalitários há restrição das liberdades individuais, podendo inclusivamente haver discriminação social, política ou económico, há violação dos direitos humanos. Mesmo que esqueçamos a consideração objetiva dos direitos humanos, há violação da dignidade do ser humano. É a dignidade do ser humano que separa o Homem de um mero ser animado. Qualquer dirigente que execute esta transformação intrínseca desrespeita da forma mais deplorável o seu povo, não merecendo de todo o cargo que ocupa.
            Uma forma desta discriminação e infração dos direitos humanos é o favorecimento de determinadas classes, normalmente as que já são, por natureza, privilegiadas, relativamente às outras. Isto é equiparável a termos uma mãe ou um pai que favorece um dos filhos. Tal como estes “pais” não são adequados para a sua função, os dirigentes governamentais não são de todo aptos para o seu cargo.
            Pode ser dito que os estados democratas também têm favorecimentos sociais sobre a forma de subsídios e outras medidas sociais. Porém, estas medidas servem para minimizar diferenças sociais, não para as criar. Se um pai ajuda mais um filho com dificuldades do que outro que não as tenha, não está a ser “mau pai”, está a tentar que ambos estejam ao mesmo nível.
           
Ao longo da história encontramos exemplos de tirania política e revoltas contra a mesma. No século XVIII, os franceses revoltaram-se contra um rei absoluto preso no Antigo Regime, uma Bastilha de pessoas que eram silenciadas por destoarem, uma corte solene dispendiosa, um regime que favorecia os aristocratas e se suportava no infeliz povo. E foram, consequentemente, declarados os direitos humanos e dado ao povo liberdade. No início do século XX, os russos revoltaram-se contra um Czar detentor do melhor sentido de humor: suportava um país agrícola nos trabalhadores do campo, no entanto, estes tinham condições deploráveis em que qualquer tostão que vissem era rapidamente transferido para os bolsos dos latifundiários. Até Portugal se revoltou contra a monarquia e instituiu a república. A história prova, assim, que nenhum regime totalitário é promissor e que acaba por desabar.
Pode ser dito que todas estas revoluções tiveram consequências nefastas: em França passou a dominar o terror de Robespièrre e mais tarde Napoleão Bonaparte; na Rússia vingou Estaline, também opressor tirano totalitário (relembro que a eventual utilidade do Exército Vermelho só decorre de divergências entre ex-aliados Estaline e Hitler). Em Portugal instala-se uma república no mínimo problemática e uma consequente ditadura Salazarista. Trata-se da montanha russa política que mencionei anteriormente: a humanidade, pela imperfeição do ser humano, terá sempre tendência a problematizar o ideal e instaurar o tóxico. Sucede-se que quando o povo está revoltado e sente a necessidade de ser ouvido, acaba por confundir os próprios desejos e as vozes comunitárias com a sua. Haverá sempre alguém que veja na decadência uma oportunidade de ascensão. Isto passa pelo aproveitamento da vulnerabilidade que o povo adquire em tempos de mudança. Esta situação não se afasta muito da propaganda que Hitler infligiu numa Alemanha do pós-guerra humilhada e em complicações económicas da grande depressão. Recomenda-se cuidado e análise sistemática e, aqui, a individualização do povo em seres humanos racionais de opiniões divergentes.
Apesar das eventuais consequências nefastas das revoluções referidas (que acabaram, inclusivamente, por serem atenuadas), em todas delas há raios de esperança que se propagaram beneficamente até a atualidade: a implementação dos direitos humanos, a instauração da república em Portugal (à qual regressou após a ditadura) e ideais de valorização da igualdade do socialismo russo (admito existir essa luz nos conceitos marxistas).
Para além de tudo isto, defendo categoricamente a paz como a mãe da estabilidade. Baseando-me na história, todo o totalitarismo origina um consequente conflito armado (revoluções apresentadas, segunda guerra mundial, entre muitos outros), originando causalidades eminentes que perturbam, segundo o meu raciocínio, o equilíbrio da vida, ainda que esta seja subjetiva.


Em suma, nego o totalitarismo pela infração dos direitos humanos, pelo contraste exponencial entre o dirigente político e o povo que deveria representar, pelo silenciamento do povo que sustenta o próprio país, pela discriminação social tirana recorrente no totalitarismo, pela iminente perturbação da paz que origina e pela tendência que tem a falhar por inaptidão. Que se ergam dirigentes, mas que se ergam por escolha do povo e que trabalhem em função do mesmo (a utopia).

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