Começo por deixar claro que a posição
que venho aqui defender não é, de todo, uma expressão de natureza
política. Acredito que existam nesta cidade, país, planeta, doutos
suficientes, a quem apoiar ou
defender totalitarismos e anarquias se revelarão como agradáveis
modos de passar o tempo... O meu propósito, porém, é falar como
pessoa, não como
senhora da verdade,
acerca de algo que muitos aparentam (ou escolhem) ignorar: todos
possuímos uma voz e,
mais do que o poder, temos o dever de a usar.
Curiosamente
(ou talvez nem tanto, uma vez que as artes por diversas vezes ao
longo da Histórias se revelaram como catalisadores
de introspeção e reflexão), o tópico para o corrente texto
surgiu-me exatamente enquanto escutava uma música. A dada altura, a
voz do artista afirma que ninguém nasceu para simplesmente «seguir»,
que devemos agarrar-nos
e defender as nossas opiniões, os nosso princípios e sonhos. Não
será isto a mais pura verdade? Ou fomos nós criados para ser
escravos de outrem, seres sem personalidade e condenados à vontade
alheia?
De nada serve
enaltecer conceitos como a liberdade de expressão e opinião, tão
indiferentemente gozadas dia após dia, quando estes mesmos conceitos
não são encarados seriamente nos momentos realmente cruciais. De
nada nos serve a possibilidade de exprimir-mos os nossos ideais de
maneira clara, através de palavras e frases coerentes, se escolhemos
antes mantê-los guardados para nós mesmos.
Ainda
que a rebeldia extrema ou isolação não sejam métodos que
considere benéficos ou úteis à Sociedade em geral, tão pouco
acredito que limitar-mo-nos a consentir tudo o que aqueles que
escolhemos considerar mais sábios nos
impõem seja resposta para qualquer decisão ou problemática.
Não
ensina a Religião Cristã que Deus permitiu ao Homem a possibilidade
de tomar as suas próprias decisões? Não provou a Evolução que
entre uma célula inicial e a pessoa que somos hoje, se impõem
milhões e milhões de anos, ao longo dos quais as nossas capacidades
de raciocínio e comunicação foram desenvolvidos? Não afirmam
certos filósofos que o que nos separa de todos os outros seres é o
nosso livre arbítrio?
Muitos
considerarão difícil demais; outros tantos, desnecessário: afinal,
de tanta gente no mundo, porque haveríamos - logo nós - de nos
esforçar por fazer ouvir a nossa voz, que pouco difere das outras...
Realmente, por
vezes poderá parecer que de nada nos servirá opinar ou tentar
inovar, uma vez que existirá sempre alguém mais coerente, alguém
com uma ideia melhor que a nossa. Mas se todos os génios,
revolucionários, artistas, líderes da História tivessem pensado de
tal maneira, a Sociedade como a conhecemos não seria certamente
igual.
Todos
temos uma voz. Quer no
sentido literal, quer em sentido figurados, esta palavra representa
um direito e dever de nos fazermos ouvir. E porque nem sempre, por
mais alto que soemos, alcançaremos exatamente os resultados
pretendidos, temos também o dever de continuar a tentar, de nunca
nos subjugar-mos a uma existência de docilidade e inércia.
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