segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Primeiro Passeio



Eis-me sozinho na terra, sem irmão, parente próximo, amigo, ou companhia a não ser eu próprio. O mais sociável e o mais afectuoso dos homens foi proscrito da sociedade por um acordo unânime. No requinte do seu ódio, procuraram o tormento que fosse mais cruel para a minha alma sensível e quebraram violentamente todos os laços que a eles me ligavam. Eu teria amado os homens apesar do que são. Ao deixarem de o ser mais não fizeram do que furtar-se ao meu afecto. Ei-los, portanto, estrangeiros, desconhecidos, em suma, inexistentes para mim, já que assim o quiseram. Mas eu, desligado deles e de tudo, o que sou afinal? É o que me falta descobrir. Infelizmente, antes dessa descoberta, tenho de analisar a minha situação. É uma ideia pela qual tenho forçosamente de passar para, partindo deles, chegar a mim.
Há quinze anos ou mais que me encontro nesta estranha situação, e ainda me parece um sonho. Continuo a pensar que uma indigestão me atormenta, que tenho sonhos maus durante o sono e que vou acordar aliviado do meu sofrimento, entre os meus amigos. Sim, sem dar por isso, devo ter passado da vigília para o sono, ou antes, da vida para a morte. Afastado, não sei como, da ordem das coisas, vi-me precipitado num caos incompreensível em que não distingo nada; e quanto mais penso na minha situação presente, menos posso compreender onde me encontro. (…)

Jean-Jacques Rousseau, Os Devaneios do caminhante Solitário

29. A Unidade do Meu Ser



Mas «porque a Vossa misericórdia é superior às vidas» confesso-Vos que a minha vida é distensão. «A Vossa dextra recolheu-me» por meio do meu Senhor, Filho do Homem e Mediador entre Vós que sois uno e nós que além de sermos muitos em número, vivemos apegados e divididos por muitas coisas. Assim me unirei por Ele a Vós a quem, por seu intermédio, fui ligado. Desprendendo-me dos dias em que dominou em mim a «concupiscência» alcançarei a unidade do meu ser, seguindo a Deus Uno. Esquecerei as coisas passadas. Preocupar-me-ei sem distracção alguma, não com as coisas futuras e transitórias, mas com aquelas que existem no presente. «Com fervor de espírito, dirijo-me para a palma da celestial vocação, onde ouvirei o cântico dos Vossos louvores e contemplarei a vossa alegria» que não conhece futuro nem passado.
Agora, porém, «os meus anos decorrem entre gemidos». Vós Senhor, consolação minha, sois eternamente meu Pai. Mas eu dispersei-me no tempo cuja ordem ignoro. Os meus pensamentos, as entranhas íntimas da minha alma, são dilacerados por tumultuosas vicissitudes até ao momento em que eu, limpo e purificado pelo fogo do vosso amor, me una a Vós.»


Santos Agostinho, Confissões, XI, 29

domingo, 3 de novembro de 2013

Texto autobiográfico 

   Existem certos momentos em que somos obrigados a confrontarmo-nos, de modo a termos de  nos descobrir. Existem pessoas que pensam que a sua vida não passa de algo comum ou até mesmo insignificante, mas essas pessoas estão enganadas porque em todas as vidas há sempre assuntos  interessantes e momentos especiais que cada um guarda em si mesmo. Assim eu também pensava como essas pessoas principalmente quando estava triste. Pensava que não passava de uma pessoa qualquer que ia ter uma vida normal e uma família comum mas isso é mentira, pois ninguém é uma pessoa qualquer, ninguém tem uma vida normal e ninguém tem uma família comum.

Todas as pessoas são únicas porque ninguém é igual a ninguém, todos nós temos uma dimensão, um mundo, ou mesmo um universo que pertence exclusivamente a cada um de nós. Não existe uma vida normal, pois todas as vidas são como  montanhas russas cheias de emoções, de altos e baixos, e de coisas estranhas e estúpidas que, muitas vezes, nos fazem rir e ver o mundo de outra forma. Assim como é impossível ter-se uma vida normal é impossível ter-se uma família comum, todas as famílias tem problemas, alegrias, gostos, costumes e complexidades caraterísticos e únicos de cada família. Assim, parecendo que não, nós vivemos num mundo fantástico cheio de vida. Nós é que muitas vezes não sabemos dar valor ás coisas que nos rodeiam e a nossa vida. Ás vezes é naqueles momentos banais e fúteis que inesperadamente deixamos de ficar tristes e deprimidos e levantamos a cabeça de repente, ás vezes ouvir uma música inspiradora, descobrir algo novo, uma pequena conversa entre família ou amigos, uma riso ou sorriso por mais que estupido que seja o motivo de tal coisa, pensarmos conosco próprios e entre outros motivos. O que na realidade conta não é o motivo mas sim o objetivo: a felicidade.

     Desta forma, eu, uma vez, olhei para uma paisagem que me é muito habitual olhar: a paisagem que vejo da janela do meu quarto. Pode não ser uma bela paisagem, admito que não é, mas essa paisagem faz me feliz, conforta-me, de uma certa maneira que só o meu inconsciente pode explicar, quer faça chuva, nevoeiro, sol ou nublado. Sem essa paisagem é como se não me sentisse "em casa". O facto é que também gosto imenso da minha casa tal e qual como de Oeiras, não sei porquê. Sempre que volto de férias e chego a este lugar fico sempre feliz, não que não gostasse ir de férias, mas  porque simplesmente tenho um fascínio por este lugar, "lar doce lar". Eu sou daquelas pessoas que se afeiçoa a tudo o que tem rapidamente. Assim encontro tudo o que preciso aqui mesmo. É aqui que, como, durmo, diverto-me, riu-me quer com os meus país, quer com o resto da minha família, ou amigos, e viajo dentro de mim, criando milhões de histórias em muitos lugares. Tudo isto sem sair de lugar. E só agora é que reparo que é nestas mais pequenas coisas do meu dia-a-dia que encontro tudo o que preciso para ser feliz. Eu até podia viver num lugar melhor e ter mais dinheiro mas eu sou mais feliz assim. Não sei exatamente quem sou, só sei que sou feliz.                                           

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Texto Auto-biográfico

Sinto-me dividida, como se o meu coração fosse dividido em dois, com um rasgo profundo, com uma cicatriz profunda, no fundo sinto que sou como uma folha de papel que se fosse rasgada ao meio de nada serviria…tudo isto por amor a duas cidades que tanto amo, Porto e Lisboa, na primeira nasci, e na segunda porque lá vivo e aprendi a amar
Nasci em 27 de Outubro de 1998, na cidade do Porto, na freguesia de Cedofeita, mais propriamente na Ordem do Carmo (digamos que é quase no coração do Porto), pois há quem diga que o coração da cidade é nos Aliados. Vivi durante oito anos em Vila do Conde, uma das vilas mais lindas de Portugal, e que está localizada entre o Porto e a Póvoa de Varzim, junto ao mar.
Aos oito anos de idade vim morar para Lisboa, porque o meu pai recebeu um convite de trabalho irrecusável. Eu achei que o mundo ia desabar na minha cabeça, pois nós amávamos viver em Vila do Conde, e vir para Lisboa significava deixar os meus amigos, e ficar longe da minha família paterna. A minha mãe achou que para nós (eu e a minha irmã) seria perfeito, por causa da pronúncia do norte. A minha irmã que é mais nova que eu, já tinha “apanhado” um pouco da pronúncia, e a minha mãe que viveu durante muitos anos em Lisboa e que só foi para o Norte porque se casou com o meu pai, adora ouvir a pronúncia, mas nunca achou piada ao facto das suas filhas falarem com “sotaque do Porto”. Nós já tínhamos adquirido alguns vocábulos típicos do Porto, do género “anda para a minha beira”, “empresta-me a aguça”, e claro às vezes trocar o “v” por um “b”, como por exemplo em vez de “vóvó” dizíamos “bóbó”…
Hoje, sempre que vou ao Porto adoro ouvir as pessoas a falar com o seu sotaque nortenho, tal como adoro sentir o cheiro das ruas, do rio Douro, adoro revisitar os locais por onde passeávamos, a ribeira do Porto, a Foz, as ruas cheias de comércio, etc…Felizmente, visitamos imenso o Porto, porque temos lá muitos amigos e família e por isso parte do meu coração está naquela cidade.
A adaptação a Lisboa foi muito difícil, a família toda adaptou-se bem, penso que a única a sofrer com a mudança tenha sido mesmo eu, mas como tenho uns pais fantásticos fizeram de tudo para eu me adaptar e ensinaram-me a amar a luz da cidade de Lisboa. Já estamos a viver em Lisboa à cerca de 7 anos, e hoje sinto que adoro cá viver, e que posso ter o melhor dos “dois mundos”, isto é Lisboa e Porto.
Ao fim de semana os meus pais adoram ir tomar o pequeno-almoço a Lisboa, e por isso adoro o Chiado, o Bairro Alto, Alfama, Mouraria, tal como adoro ir a Cascais. Vivemos intensamente as cidades onde vivemos, digo isto porque num minuto estamos a ver televisão em família como de repente nos lembramos de ir ver uma peça de teatro, ou uma comédia e lá vamos nós palmilhar as ruelas de Lisboa, para irmos ao Teatro da Trindade ou ao Politeama, ou pura e simplesmente ouvir uma banda de rua tocar enquanto nos deliciamos com um gelado.
Hoje, com quinze anos sinto que tenho uma vida feliz porque a minha família é fantástica fazendo os possíveis por nos ajudar (a mim e à minha irmã) a superar as dificuldades, e a olhar o mundo com curiosidade, sem medos, e às vezes a aceitar as coisas e as pessoas como elas são.
De facto o episódio mais marcante da minha vida foi a mudança do Porto para Lisboa, e hoje seria difícil escolher uma das duas cidades, pois amo ambas, a explicação para esta dualidade pode estar no facto do meu pai ser do Porto e a minha mãe de Lisboa. Ele costuma dizer que é da “Invicta” e que nunca foi conquistado, mas lá no fundo nós sabemos ele foi mesmo conquistado por uma moura que é a minha mãe.







Momento autobiográfico - A chuva

Era uma tarde de inverno, num domingo cuja data certa não me recordo. Chovia de forma deprimente, como se as gotas de chuva apagassem a beleza do mundo. Eu sempre achei a chuva incómoda, claro que tinha as suas vantagens, mas incómoda na mesma. Chuva sempre foi, para mim, sinónimo de cinzento, tristeza, e a ausência de cor provoca-me sempre um empobrecimento de espírito. Sem nada de interessante para me ocupar o tempo, olhei pela janela, como tantas vezes o fiz antes. Encostei a cara à janela e o vidro ficou embaciado. Era um hábito singular mas sempre encontrei calma e serenidade neste estranho ato. Olhar pela janela… Parece tão básico e insignificante mas sempre me distraiu e fascinou, independentemente da paisagem. Talvez a janela me dê a sensação de proteção do que se encontra para além dela, ou talvez seja somente um velho hábito. Ao olhar pela janela não encontrei calma e entusiasmo na relva verde, nas árvores baixas, no gradeamento verde-escuro, no muro amarelo nem nas casa dos vizinhos mas comecei a pensar, a imaginar. Comecei a recuar no tempo na minha própria dimensão. Dei por mim a questionar o que teria sido a minha casa, a minha rua, os sítios por onde passo no passado. Teria havido algum acampamento pré-histórico no sítio onde, hoje, vejo televisão? Teria o terreno de minha casa sido visitado por Romanos? A partir daí comecei a divagar. Comecei a pensar que o chão que piso e os locais por onde me desloco da forma mais casual possível poderiam, no passado, ter sido um castelo medieval onde fidalgos dirigiam as suas vastas propriedades, onde pequenas meninas aprendiam a ser damas de apreço e estima. Talvez a minha rua teria visto os amores e desamores de jovem casais, numa época mágica e mítica. Teriam sábios pisado o que eu piso? A chuva que tanto me incomoda terá quiçá incomodado reis e rainhas, altos senhores e senhoras ou simples camponeses que apesar de não terem deixado lembranças no mundo, encontram espaço no meu peculiar pensamento. Por onde caminho terá caminhado algum marinheiro que foi à Índia com Vasco da Gama ou algum corajoso que deu a vida pelo país sem qualquer apontamento na história mas com prestígio amiúde nas minhas ilusões? Imagino importantes senhoras do Barroco a aplicarem pó de arroz onde eu observo o meu simples reflexo, a pensarem na vida que levavam, com todo o fausto e pompa, com penteados tão altos como a honra dos cavaleiros, senhoras essas vestindo grandiosos e magnificentes vestidos, com os quais mal respiravam. Visiono pequenas crianças a correrem no jardim. Imagino história a ser feita, batalhas a serem travadas, heróis a serem aclamados, perdedores com orgulho ferido. Imagino a subtileza e inocência de épocas mais simples, em que a palavra importava e a cultura era seriamente valorizada. Todos estes momentos históricos unidos pela chuva, que ao contrário das Pessoas não tem preferências nem preconceitos. Como invejo aquela chuva! Já viu tantas coisas magníficas, tantos períodos da história que me fascinam tremendamente. Desejava também eu experienciar tais coisas, ver outras realidades para além da contemporânea onde tudo carrega estigma, onde as pessoas são más, onde qualidades como a inocência e bondade são negligenciadas, onde a menor gafe ou mal-entendido carrega tal negatividade que despoleta repugno pelas pessoas com as quais convivemos. Quando estou cansada do mundo em que vivo, penso na chuva, que tanto viveu. E fascina-me como é que eu, humana e preanunciada como superior às outras espécies, invejo tal coisa, que até me incomoda, e na qual procuro conforto. Nesta tarde de domingo vi a chuva de outra forma – não como algo negativo, nem exatamente como algo apreciável, mas como uma escapatória à realidade com a qual me deparo. Para além disto, sempre que sou abordada por estes pensamentos, concluo que sou muito diferente das outras pessoas. Sou estranha, peculiar, e não me importo de o ser. Ser igual aos outros não é interessante. Espero que a sociedade permita a existência desta estranheza, não por mim mas para que daqui a alguns séculos haja alguém que se lembre não só dos belos e famosos mas também daqueles que nenhuma marca significativa deixaram na história. Se eu própria, daqui a alguns anos, for transparente numa dimensão global, contento-me com a ideia da ‘estranha rapariga que gosta de pensar na chuva’ que outrora fora.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Conversão de São Paulo (2)


Caravaggio, «São Paulo»

Conversão de São Paulo

1E Saulo, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote. 2E pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns neste Caminho, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém. 3E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. 4E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? 5E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões. 6E ele, tremendo e atônito, disse: Senhor, que queres que eu faça? E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer. 7E os homens, que iam com ele, pararam espantados, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém. 8E Saulo levantou-se da terra, e, abrindo os olhos, não via a ninguém. E, guiando-o pela mão, o conduziram a Damasco. 9E esteve três dias sem ver, e não comeu nem bebeu. 10E havia em Damasco um certo discípulo chamado Ananias; e disse-lhe o Senhor em visão: Ananias! E ele respondeu: Eis-me aqui, Senhor. 11E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e vai à rua chamada Direita, e pergunta em casa de Judas por um homem de Tarso chamado Saulo; pois eis que ele está orando; 12E numa visão ele viu que entrava um homem chamado Ananias, e punha sobre ele a mão, para que tornasse a ver. 13E respondeu Ananias: Senhor, a muitos ouvi acerca deste homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém; 14E aqui tem poder dos principais dos sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome. 15Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel. 16E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome. 17E Ananias foi, e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. 18E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado. 19E, tendo comido, ficou confortado. E esteve Saulo alguns dias com os discípulos que estavam em Damasco. 20E logo nas sinagogas pregava a Cristo, que este é o Filho de Deus. 21E todos os que o ouviam estavam atônitos, e diziam: Não é este o que em Jerusalém perseguia os que invocavam este nome, e para isso veio aqui, para os levar presos aos principais dos sacerdotes? 22Saulo, porém, se esforçava muito mais, e confundia os judeus que habitavam em Damasco, provando que aquele era o Cristo. 23E, tendo passado muitos dias, os judeus tomaram conselho entre si para o matar. 24Mas as suas ciladas vieram ao conhecimento de Saulo; e como eles guardavam as portas, tanto de dia como de noite, para poderem tirar-lhe a vida, 25Tomando-o de noite os discípulos o desceram, dentro de um cesto, pelo muro. 26E, quando Saulo chegou a Jerusalém, procurava ajuntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, não crendo que fosse discípulo. 27Então Barnabé, tomando-o consigo, o trouxe aos apóstolos, e lhes contou como no caminho ele vira ao Senhor e lhe falara, e como em Damasco falara ousadamente no nome de Jesus. 28E andava com eles em Jerusalém, entrando e saindo, 29E falava ousadamente no nome do Senhor Jesus. Falava e disputava também contra os gregos, mas eles procuravam matá-lo. 30Sabendo-o, porém, os irmãos, o acompanharam até Cesaréia, e o enviaram a Tarso. 31Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia e Samaria tinham paz, e eram edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo. 32E aconteceu que, passando Pedro por toda a parte, veio também aos santos que habitavam em Lida. 33E achou ali certo homem, chamado Enéias, jazendo numa cama havia oito anos, o qual era paralítico. 34E disse-lhe Pedro: Enéias, Jesus Cristo te dá saúde; levanta-te e faze a tua cama. E logo se levantou. 35E viram-no todos os que habitavam em Lida e Sarona, os quais se converteram ao Senhor. 36E havia em Jope uma discípula chamada Tabita, que traduzido se diz Dorcas. Esta estava cheia de boas obras e esmolas que fazia. 37E aconteceu naqueles dias que, enfermando ela, morreu; e, tendo-a lavado, a depositaram num quarto alto. 38E, como Lida era perto de Jope, ouvindo os discípulos que Pedro estava ali, lhe mandaram dois homens, rogando-lhe que não se demorasse em vir ter com eles. 39E, levantando-se Pedro, foi com eles; e quando chegou o levaram ao quarto alto, e todas as viúvas o rodearam, chorando e mostrando as túnicas e roupas que Dorcas fizera quando estava com elas. 40Mas Pedro, fazendo sair a todos, pôs-se de joelhos e orou: e, voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te. E ela abriu os olhos, e, vendo a Pedro, assentou-se. 41E ele, dando-lhe a mão, a levantou e, chamando os santos e as viúvas, apresentou-lha viva. 42E foi isto notório por toda a Jope, e muitos creram no Senhor. 43E ficou muitos dias em Jope, com um certo Simão curtidor.

Actos dos Apóstolos, 9