sábado, 23 de novembro de 2013

Livro do “Principezinho”

Autor: Antoine de Saint-Exupéry
Editor: Editorial Presença
Data de Lançamento: 1943, em Nova Iorque
Nº páginas do livro: 93

O livro do principezinho é uma parábola (é uma narração que  utiliza  citações e pessoas para comparar a ficção com a realidade e através dessa comparação transmitir uma lição de sabedoria, a moral da história).

Resumo:
O principezinho já se foi embora à 6 anos, mas o narrador desidiu contar a sua história com ele.
Este livro fala de um encontro e de uma amizade que se desenvolveu entre o narrador e o principezinho que vivia num planeta muito pequenino, um pouco maior do que uma casa (o asteróide B612).
O  narrador é um piloto que estava a fazer uma viagem a África e teve um problema no motor do seu avião, tendo caído no meio do deserto do Sara, como não levava passageiros nem mecânico, preparou-se para concertar sozinho o seu avião, só que a água quase não chegava para 8 dias.
Na madrugada do dia seguinte foi acordado, surpreendentemente por uma vóz muito fininha de um rapazinho loiro a pedir lhe para desenhar-lhe uma ovelha.
O narrador ficou encantado com o principezinho, este foi o único que entendeu os seus dois desenhos que tinha feito- uma jiboia aberta e uma jiboia fechada- ao contrário das outras pessoas que achavam que era um chapéu. O principezinho teve a capacidade de perceber que o desenho era uma jiboia a devorar um elefante.
Para o principezinho o desenho da ovelha nunca estava bem, esta nunca era bem como ela queria, então o piloto desenhou uma caixa, e disse que dentro dessa caixa estava lá a tal ovelha que o principezinho desejava.

O narrador foi aos poucos descobrindo mais coisas sobre o planeta do principezinho, o que era um bocado dificil uma vez que ele estava sempre a fazer perguntas(quando fazia uma pergunta nunca desistia dela) e raramente repondia às que lhe eram feitas.
Era um planeta que tinha 3 vulcões, um deles extinto e umas árvores chamadas embondeiros que cresciam muito depressa, o que obrigava o principezinho a limpar as suas raízes todos os dias para não destruir o seu planeta.
Um dia lentamente foi nasendo no seu planeta uma flor, diferente das que tinha visto, para ele era única, visto que nunca tinha visto uma igual.
Tratava-a todos os dias com muito cuidado, regava-a e protegia-a do vento, uma vez que ela era muito frágil, pois só tinha 4 espinhos.
Mas com o passar do tempo começou a ficar farto dela, pois esta era vaidosa, resmungona, exigente e por fim até mentirosa. Por isso decidio ir-se embora e aproveitar para conhecer outros planetas.
O primeiro planeta era habitado por um rei, era um rei absoluto, queria reinar sobre toda a gente, mas não tinha ninguém para o fazer, uma vez que estava sozinho no seu planeta.
O principezinho com este rei aprendeu que “só se pode exigir a uma pessoa o que essa pessoa pode dar” e “que é muito mais dificil julgarmo-nos a nós próprios do que aos outros”. Quem conseguir julgar-se a si próprio é considerado um sábio.
O segundo planeta era habitado por um vaidoso. Ele só queria ser admirado, só que não tinha ninguém que o fizésse, pois também este vivia sozinho no seu planeta.
O principezinho aprendeu que os vaidosos só ouvem elogios.
O terceiro planeta era habitado por um bêbado, que se sentia culpado por beber, logo para se esquecer, continuava a beber, o que deixou o principezinho muito triste e com pena dele.
O quarto planeta era o do homem de negócios, que estava tão atarefado que nem levantou a cabeça quando o principezinho chegou.
Achava-se um homem muito sério, passava o tempo todo a contar as estrelas e dizia que era o dono delas.
O principezinho achava cada vez mais que as pessoas crescidas eram muito esquisitas, pois não percebia o porquê de estas só pensarem nelas e em mais nada.
O quinto planeta era o menor de todos, só tinha espaço para um cadeeiro e para um acendedor de candeiros (era um homem).
Neste planeta encontrou alguém que não se preocupava só com ele próprio, pois tinha uma missão importante a cumprir. Essa pessoa era o acendedor de cadeiros, que tinha de acender e apagar o candeeiro conforme fosse noite ou dia. 
O problema era que o seu planeta rodava muito depressa, pois era muito pequenino e um dia só demorava um minuto, o que fazia com ele estivesse muito cansado, pois não tinha tempo para dormir. No entanto estava determinado em cumprir o seu trabalho e o principezinho admirou-o.
Era o único que ele achava que podia ser seu amigo.
No sexto planeta vivia um geógrafo (senhor de idade) que sabia de tudo sobre os máres, os rios, as montanhas e os desertos, apesar de nunca lá ter ido, pois eram as outras pessoas que lhe vinham contar e ele limitava-se a escrever.
Este disse-lhe que a sua flor podia um dia desaparecer, o que deixou o principezinho muito preocupado.
Aconselhou-o a visitar o planeta terra.
O sétimo planeta era a terra, teve muitos encontros. 
Com uma serpente que lhe informou que poderia se ele quizesse levá-lo de volta ao seu planeta.
Mais tarde encontrou um jardim cheio de flores iguais à sua e aí descobriu que a sua flor era uma rosa, e que ao contrário do que pensava não era única no universo, o que o deixou-o muito triste e desiludido, deitou-se na relva a chorar.
De repente apareceu uma raposa, que iria mudar tudo. Encinou-lhe a importância da amizade, disse-lhe que quando alguém cativa alguém, essas pessoas passam a precisar uma do outra, ou seija por enquanto o principezinho era para a raposa um rapazinho perfeitamente igual a cem mil outros rapazinhos, mas se ele a cativa-se, ambos passavam a ser únicos mundo um para o outro. 
 Depois de estarmos presos a uma pessoa, passamos a ser responsáveis por ela. 
Era o que tina acontecido entre o principezinho  e a sua rosa (ele era responsável por ela).
A raposa disse-lhe também que os homens tem a mania de comprar tudo, só que os amigos não se compram, cativam-se,  por isso é que os homens deixaram de ter amigos.
O principezinho cativou a raposa. 
Entretanto o principezinho teve de se ir embora o que deixou os dois muito tristes.
Antes de se ir embora a raposa disse-lhe que o mais importante só se vê com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
O principezinho começou a contar ao narrador que um dia encontrou um vendedor de comprimidos para tirar a sede. Tomava-se um por semana e deixava-se  de ter necessidade de beber.
Entretanto, quando contava essa parte da história da sua viagem na terra, o aviador tinha bebido as suas últimas gotas de água, como ambos estavam com sede, decidiram ir procurar um poço.
A meio do caminho, o principezinho já estava demasiado cansado por isso adormeceu e o piloto levou lhe ao colo até ao poço. Depois de beberem água, o principezinho disse ao piloto que já estava na altura de se ir embora para o seu planeta, pois já estava na terra à 1 ano e desde que tinha encontrado a raposa nunca mais tinha deixado de pensar na sua flor desprotegida.
No dia seguinte, o piloto conseguiu arranjar o avião e o principezinho combinou com a serpente que nessa mesma noite, no local onde tinha caído na terra, ela o ia levar de novo ao seu planeta.
O principezinho consolou o seu amigo dizendo que se ele olhá-se para o céu, à noite, ia ver muitas estrelas e como sabia que este estava numa delas a rir para ele, era como todas as estrelas do céu rissem. Para o principezinho todas as estrelas lhe iam dar-lhe de beber, pois foi o aviador que lhe deu de beber quando ele mais percisava. Nunca ninguém ia perceber porque é que para ambos as estrelas eram tão importantes e porque se riam e falavam com elas.
Á noite a serpente mordeu o principezinho, que caiu devagar sobre a areia e foi lentamente para o seu planeta.




O que retirei da história:
Esta história mostra que os adultos não dão qualquer importância às coisas que realmente são importantes. Os adultos preocupam-se demasiado com números, são muito materialistas, não vêm com o coração, só com os olhos, e existem determinadas coisas que só o coração vê (sente). Para eles o que importa é a carreira profissional, os euros que têm no banco, o carro que têm ou a roupa que usam.


Descrição do quadro de hooper

Nesta pintura podemos observar um casal numa sala com paredes verdes, vários quadros, uma pequena mesa, um sofá e um piano. Entre uma janela que se encontra aberta, observamos um homem de calças e colete preto, camisa branca e uma gravata azul escura, sentado no sofá , um pouco inclinado para a frente, com uma expressão bastante atenta a ler um jornal. A mulher de vestido vermelho e cabelo apanhado, está a tocar piano, com um ar muito elegante, mas pouco interessado e algo triste, como que estivesse em segundo plano.  A pintura transmite uma relação fria e distante entre ambos.


Autobiografia

Quem eu sou? Boa pergunta.
Quando me pediram para elaborar uma autobiografia senti que seria um pouco narcisista, pois acho que a minha vida não tem muito de diferente dos outros jovens da minha idade.
Nasci dia 27 de Março de 1998 às 2 da manhã numa noite muito fria, na Amadora e segundo os meus pais era uma bebe muito esperta, muito mexida, era super curiosa e adorava mexer em tudo, principalmente no que não devia.
Não me podiam levar para lado nenhum, pois não parava quieta e só fazia disparates. Jantar num restaurante , por exemplo, era impossivel, corria de mesa em mesa, fazia birras, enfim… era uma dor de cabeça para os meus pais.
Hoje sou bem diferente, vejo-me como uma simples menina de 15 anos que sonha em ser pediatra oncológica e com um mundo melhor, onde toda a gente é feliz, onde não existe mentira, tudo é puro e verdadeiro.
Para mim, ajudar uma criança e os seus pais a passar um momento difícil como ter cancro, em que a luta pela vida é constante e com resultados imprevisiveis, é de extrema importância. Para as crianças e pais, vitimas desta doença, o mundo ficou, de um dia para o outro, virado ao contrário. Quero-os ajudar a vencer e sentir-me como um fotógrafo amador que consegue tirar a melhor fotografia do mundo. Para me sentir realizada preciso de o fazer e é o que farei, sou persistente.
Para já, estudo, trilho o meu caminho e pretendo a curto prazo, assim que a idade o permitir, fazer voluntariado nesta área tão dolorosa.
Quero aprender com estas crianças, apesar de serem bem mais novas do que eu têm tanto para encinar, são umas autenticas guerreira, todos os dias sem perder as forças lutam pela vida, são tão adultas, mas ao mesmo tempo tão inocentes, puras e verdadeiras, não hà palavras para decrever o amor e admiração que sinto por elas.
Vivi os meus primeiros dois anos de vida na Amadora, morei em Queluz durante cinco anos em 2005 vim para São Domingos de Rana, onde vivo actualmente e sou feliz. Adoro o sitio onde moro, tenho imensos espaços verdes e estou perto do mar. Pratico surf e skate. Adoro empadão, não gosto de peixe… e aceito a critica dos meus pais, de que sou uma “esquisita” no que respeita à comida.
Os meus pais sempre se esforçaram por me proporcionar a melhor educação. Passei por colégios como a D.Filipa, na Amadora, fiz o ciclo primário na Escola Nova Apostólica e passei pela Escola Conde de Oeiras.
Na Quinta do Marquês tenho muitos amigos e trabalho muito para amanhã continuar a ser feliz e contribuir para a felicidade de todas as pessoas. 



sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Recordações Autobiográficas

O passado. O irreversível. Um conjunto de pedaços, momentos que constitui a nossa história. E pouco a pouco, momento a momento, fase a fase da nossa vida, vai-se construindo uma personalidade. Várias coisas banais acontecem na nossa vida. Um lugar que tenhamos visitado muito ou uma música. E nenhuma destas precisa de ser especial ou ter significado para nós. Simplesmente são acontecimentos normais que marcam uma fase da nossa vida.
A música mexe com as nossas memórias. 
Por vezes, ao estar a ouvir música no meu telemóvel ou computador, escolho uma música de há três anos, e dou por mim a lembrar-me de tudo o que fiz, com quem estive, onde estive e como me sentia. É como se tivesse um flashback. Como se viajasse no tempo. Subitamente é como se estivesse outra vez no sétimo ano a rir da pronúncia do professor de História enquanto eu e o Stewie comíamos bolachas disfarçadamente para não dar a ninguém. Por outras vezes, estávamos eu, o Chico, o Gu e o Stewie na Ponta do Ouro a fazer um documentário em vídeo, às quatro da manhã, a dar festas aos bambis do resort ao pé da piscina. Por vezes sabe bem recordar o passado. Traz uma certa nostalgia, porém é sempre agradável saber que o que foi feito, está feito e seja este bom ou mau, isto traz sempre uma sensação de dever cumprido.
Um odor, por sua vez traz ainda uma sensação mais pormenorizada. É como se sentíssemos a atmosfera do momento que estamos a recordar. É preciso que o cheiro seja de facto marcante, ou que pelo menos a memória o seja. É muito mais forte que qualquer outra sensação, pois mostra de facto uma proximidade muito grande entre a pessoa e a memória Dá uma sensação de completa revivência do passado. Como se voltássemos a dar os passos que já sabíamos que iam ser dados. O cheiro de um sitio. O cheiro do perfume de alguém que gostamos. São memórias que deixam uma marca enorme na nossa vida.

E quando dei por mim, tinha escurecido lá fora e eu tinha mergulhado na minha mente nas mais complexas memórias. Retirei os auscultadores e deitei-me na cama, esperando pelo amanhã para criar novas memórias.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Quem é Alice?

Alice, da história As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, não é uma menina comum. Esta personagem é muito dinâmica e rica em vida interior. Por detrás desta personagem existe a conjugação entre traços de inocência, ingenuidade e curiosidade, tipicamente de uma criança e traços de coragem, racionalização e autocontrolo, típicos de adultos. Alice tem um comportamento fora do comum logo no início da história – esta vê um coelho com caraterísticas humanas e a sua reação não é de espanto nem de admiração, mas sim de o perseguir. Aqui é mostrada a sua coragem, curiosidade e peculiaridade – para Alice o extraordinário consiste na ocorrência do comum, e o ‘normal’ tem uma margem tao ampla que admite acontecimentos extraordinários.
Esta personalidade ‘fora-do-comum’ é novamente mostrada na queda de Alice. Uma criança ‘comum’ ficaria contaminada de histerismo e terror; Alice, porém, assume uma posição descontraída ao ponto de pensar em coisas das quais muito poucas pessoas se lembrariam se estivessem no seu lugar (muito menos uma criança). Esta descontração demonstra-se praticamente quando retira um frasco de compota durante a descida e o que a deixa aborrecida, o que afeta o seu bem-estar psicológico após algo tão estranho, é o facto de o frasco estar vazio. Outro aspeto que atribui a Alice um caráter peculiar é a racionalização particular que faz – não atira o frasco para o chão pois tem medo de magoar alguém. Uma criança, nesta situação, poderia considerar o sítio para onde está a cair, mas dificilmente pensava na existência de alguém nesse mesmo sítio, alguém que tivesse percorrido o mesmo caminho.
A sua coragem volta a exibir-se quando bebe o líquido e come o bolo cujas origens desconhece. É feita novamente uma distinção inata entre a reação de uma criança normal e a reação de Alice perante algo incomum – aparece, como que por magia, um bolo em cima da mesa e, em vez de se questionar acerca da origem do bolo, pensa se o devia ou não comer.
A inversão do que é normal e extraordinário, segundo Alice, volta a ser evidente quando fica extremamente surpreendida, no final do primeiro capítulo, quando algo de normal acontece – come o bolo e não altera imediatamente o seu tamanho.


Um aspeto que também ajuda a uma caraterização incomum para uma criança, sendo mais esperado de um adulto, é a constante dúvida que tem acerca da sua identidade. Questiona-se sobre a sua própria pessoa, o que se intensifica quando não se reconhece a si própria. Uma criança muito dificilmente teria esta atitude mas como Alice tem uma visão inversa da realidade (o que para si é comum é a ocorrência do que é normalmente considerado como extraordinário), questiona-se não sobre o que a rodeia, onde está, a conceção do sítio onde se encontra e como a afeta, mas sobre si própria e no que se está a tornar.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Bilhete de Identidade



«Escrever memórias não é uma decisão simples. Há, é verdade, o consolo de nos revermos à doce luz da infância, mas a descoberta de que o livre-arbítrio é menor do que imaginávamos é dolorosa. No dia em que, no final da adolescência, decidi, como a madame de Merteuil do romance de Laclos, que a minha vida seria «a minha própria obra», não sabia até que ponto existiam limites, físicos, psíquicos e sociais, às minhas acções, mas hoje, passados sessenta anos, reconheço que nem todos os caminhos me estavam abertos. Em nova, felizmente, não o sabia. As grandes decisões da minha vida – aquelas que, olhando para trás, reconheço como determinantes – nem sempre foram tomadas de forma consciente. Quando isto me dói, refugiu-me nas conjunturas – e muitas houve também – em que a vontade foi crucial.
Outro aspecto que me espantou foi a continuidade do ser humano ao longo do tempo. Antes deste exercício, imaginava que a minha vida havia sido dominada por rupturas tão profundas que não podiam ter deixado de alterar a minha personalidade. Mas, logo nas primeiras expressões, como a exigência de ser punida, é visível a impressão digital. Isto pareceu-me tão bizarro que tive a sensação de ter forjado o documento, em A História do Bebé, no qual se conta que, com um ano, pedia «tau-tau» à minha mãe. Mas o facto estava (está) lá.
À medida que ia escrevendo, descobri outras coisas. Sempre pensara que a emancipação feminina era uma caminhada até ao Dia Final da Igualdade entre os Sexos. Mas, nas mulheres que aqui surgem, a minha avó, a minha mãe e eu, há algo que não é linear. Seria a minha avó menos emancipada do que a minha mãe? E eu tê-lo-ei sido mais do que esta? A minha filha terá gozado de uma autonomia maior do que a minha? E as minhas netas? Mesmo sem entrar na questão do condicionalismo genético, a resposta não é fácil. Finalmente, tive de admitir ser a nossa vida feita de escolhas, de acasos e de momentos únicos. Não sei, ninguém sabe, qual a ordem de prioridades.
Num país sem tradição memorialística, como é o caso português, no qual as memórias representam sobretudo a justificação de acções pretéritas, procurei apresentar a minha vida friamente. O facto de ter tentado resgatar tudo aquilo que vivi pode criar a ilusão de objectividade, mas é evidente que cada um cria a «sua» própria história e a da «sua» família. Sempre me surpreendeu o contraste entre a imagem que os amigos me forneciam das respectivas famílias, e o que, sobre as mesmas, ao conhecê-las, constatava. Embora aquilo que escrevi esteja baseado em factos, não presumo fornecer a Verdade. O meu relato é verdadeiro, apenas no sentido em que representa a minha verdade. Outros terão olhado as pessoas, os acontecimentos e as peripécias de que aqui falo de forma diferente.
Num país conservador, católico e hipócrita, o tom do livro poderá chocar; no entanto, a minha intenção não foi essa, mas a de tentar perceber, e de dar a perceber, uma vida, uma família e um país. Depois de tudo redigido, sofri um ataque de pânico. Uma noite, na Cinemateca, encontrei um amigo – não, por uma vez, não o nomearei – a quem revelei a intenção de publicar estas memórias.. Interrogada, disse que sim, que contava revelar os nomes das pessoas com quem me tinha cruzado. Ele ficou boquiaberto, tendo-me sugerido que usasse iniciais. Quando resisti á ideia, aconselhou-me a que deixasse o manuscrito na gaveta, com a especificação de que o mesmo só deveria ser publicado depois da minha morte. Familiarizada com a cultura anglo-saxónica, onde obras deste tipo são o pão-nosso de cada dia, não entendi as reticências, mas, após uns minutos de reflexão, concluí ser evidente que nem todos os portugueses encaravam a divulgação das suas vidas com o meu à-vontade. Durante várias noites, sofri de insónias, até que, uma madrugada, acordei com a resolução tomada. A linha inicial do poema de Emily Brontë, «No coward soul is mine», a divisa da minha adolescência, tinha de continuar a dirigir as minhas acções. O que viesse a acontecer, «in the world’s storm-troubled sphere», não era comigo. O livro seria publicado como o planeara. Sem medos, nem sentimentalismos.
Por vezes, pensa-se que o género autobiográfico sempre existiu. Mas a primeira obra a, como tal, ser concebida data do século IV, tendo sido escrita por um convertido ao Cristianismo, Santo Agostinho, o qual tão obcecado andava com a salvação da sua alma que teve necessidade de registar o seu percurso. Os contemporâneos consideraram o texto mórbido, o que fez com que, durante séculos, não tivessem aparecido imitadores. Teríamos de esperar pelo século XVIII para que algo de semelhante, as Confissões de Jean-Jacques Rousseau, surgisse. Nesta obra, já não é Deus, mas o Indivíduo que ocupa o centro. Curiosamente, o termo «autobiografia» não surgiu nessa altura, mas apenas em 1809, por obra do poeta Southey. O género, que viria a ter o seu apogeu nos países anglo-saxónicos, caracterizou-se, durante décadas, pela austeridade, só tendo adquirido um tom intimista em tempos recentes.
Ao escrever este livro, procurei, acima de tudo, ser honesta. Não querendo ferir ninguém, sabia que só valeria a pena lançar-me no empreendimento desde que fosse capaz de nada esconder. Por razões óbvias, não quis que nenhuma das pessoas que haviam desempenhado um papel durante esta fase da minha vida a ele tivessem acesso, nem procurei, com elas, colmatar falhas de memória. Escrevo sobre o que ficou registado no meu espírito, sobre o que o acaso me trouxe às mãos e sobre o que, tendo sido por mim escrito, não foi parar ao caixote do lixo. Procurei fornecer as datas e os nomes com exactidão. Se, num ou noutro caso, errei, não o fiz deliberadamente.

MÓNICA, Maria Filomena, Bilhete de Identidade 

A Estátua e a Pedra



Com alguma surpresa de quem me escuta, desde há algum tempo venho a dizer que cada vez me interessa menos falar de literatura. Pode parecer isto uma provocação, a atitude do escritor que, para se tornar mais interessante, lança declarações inesperadas e gratuitas. E não é assim. A verdade é que duvido mesmo que se possa falar de literatura como duvido, com mais razões, que se possa falar de pintura ou que se possa falar de música. É claro que se pode falar de tudo, como se fala dos sentimentos e emoções, seria absurdo pretender reduzir ao silêncio aqueles que escrevem, ou aqueles que leem, ou aqueles que sentem, ou aqueles que compõem música ou que pintam ou que esculpem, como se a obra em si mesma já contivesse tudo aquilo que é possível dizer e que tudo o que vem depois não fosse mais do que interminável glosa. Não é isso. Acontece, no entanto, que por vezes experimento o desejo de limitar-me a uma muda contemplação diante de uma obra acabada, pela consciência que tenho de que, de certa maneira, nos domínios da arte e da literatura estamos lidando com aquilo a que damos o nome de inefável. E o inefável, precisamente por sê-lo, é o que não pode ser explicado ainda que tenha de se evitar a tentação de cair em ideias de caráter transcendente, onde tudo encontraria uma explicação precisamente no facto de não ter explicação nenhuma.
À primeira vista, uma atitude como esta não parece racional e, para além disso, choca frontalmente com a definição que de mim mesmo faço, uma pessoa essencialmente racionalista, isto é, alguém que tenta que seja a razão a governar a sua vida, inclusivamente num mundo que poderíamos descrever como paralelo, que é o mundo dos sentimentos que vivem ao lado da razão. Por outro caminho, Fernando Pessoa aproximou-se muito do que quero dizer naquele verso que reza: «O que em mim sente está pensando», ainda que eu proponha, e no fundo não é mais do que um jogo de palavras, como um dos muitos com que Fernando Pessoa se entretinha e nos entretém, que digamos: «O que em mim pensa está sentindo».
Há uma definição que, de certa maneira, marcou o meu percurso como escritor, sobretudo como romancista, e que, tenho de confessar, recebo com uma certa impaciência. Trata-se do rótulo gasto de que sou um romancista histórico, o que se confirmaria tanto por alguns livros que escrevi como pela minha relação com o tempo e posição perante a história. Quero dizer, não obstante, que antes de começar a escrever sustentava como uma evidência palmária (por outro lada nada original) que somos herdeiros de um tempo, de uma cultura e que, para usar um símile que algumas vezes empreguei, vejo a humanidade como se fosse o mar. Imaginemos por um momento que estamos numa praia: o mar está ali, e continuamente aproxima-se em ondas sucessivas que chegam à costa. Pois bem, essas ondas, que avançam e não poderiam mover-se sem o mar que está por detrás delas, trazem uma pequena franja de espuma que avança em direção à praia onde vão acabar. Penso, continuando a usar esta metáfora marítima, que somos nós a espuma que é transportada nessa onda, essa onda é impelida pelo mar que é o tempo, todo o tempo que ficou para trás, todo o tempo vivido que nos leva e empurra. Convertidos numa apoteose de luz e de cor entre o espaço e o mar, somos, os seres humanos, essa espuma branca brilhante, cintilante, que tem uma breve vida, que despede um breve fulgor, gerações e gerações que se vão sucedendo umas às outras transportadas pelo mar que é o tempo. E a história, onde fica? Sem dúvida a história preocupa-me, embora seja mais certo dizer que o que realmente me preocupa é o Passado, e sobretudo o destino da onda que se quebra na praia, a humanidade empurrada pelo tempo e que ao tempo sempre regressa, levando consigo, no refluxo, uma partitura, um quadro, um livro ou uma revolução. Por isso prefiro falar mais de vida do que de literatura, sem esquecer que a literatura está na vida e que sempre teremos perante nós a ambição de fazer da literatura vida.
Este encontro autor e leitor tem por título A Estátua e a Pedra, e, para cumprir o programa que me propus, não tenho outro remédio senão regressar ao problema de se sou ou não sou romancista histórico. Alexandre Herculano, o grande historiador português do século XIX, dedicou-se também a escrever romances históricos (O Monge de Cister, Eurico o Presbítero e O Bobo), romances que hoje não são fáceis de ler porque estão escritos com um estilo muito denso, lento, com demasiada frequência sobrecarregados de um retórica romântica dificilmente suportável. De toda a forma, são livros cujo conhecimento é imprescindível se nos referimos á literatura portuguesa do século XIX. No caso de Alexandre Herculano pode-se dizer que a sua obra literária foi uma consequência direta do seu trabalho de historiador. Detenhamo-nos agora num outro autor português, mais tardio, muito menos importante, produto de outra formação, para não dizer que não teve nenhuma. Falemos então deste que está aqui, sem estabelecer qualquer tipo de comparação. Tendo eu começado a minha vida literária muito cedo, uma vez que aos vinte e cinco anos publiquei um romance que se não era bom tão-pouco era mau, só vinte anos depois voltei a publicar um livro, facto que, por certo, induziu algumas pessoas de boa vontade a perguntar-se se o autor decidiu ficar calado durante anos para ganhar experiências vitais que depois podia trasladar para a literatura. Obviamente respondo que não, que ninguém tem a certeza de viver mais vinte anos. Seria absurdo dizer: «Vou agora esperar vinte anos», como se os tivéssemos garantidos, «para, depois disso, começar a escrever com mais rigor e seriedade». Não foi assim, e de resto toda a minha vida foi feita sem planos, sem projetos, sem estratégias, sem definir caminhos para chegar a determinados objetivos. Na vida, mas também na literatura.


José Saramago, A Estátua e a Pedra

De Profundis



«E agora, José?
[…] você marcha, José!
José, para onde?»

Carlos Drummond de Andrade

«Ainda hoje estou a ouvir aquele «é». Espantoso como bruscamente o meu eu se transformou ali noutro alguém, noutro personagem menos imediato e menos concreto.
Nesta introdução à perda de identidade que um transtorno do cérebro tinha acabado de desencadear, o que me parece desde logo implacável e irreversível é a precisão cm que em tão rápido espaço de tempo fui desapossado das minhas relações com o mundo e comigo próprio. Como se acabasse de dar início a um processo de despersonalização, eu tinha-me transferido para um sujeito na terceira pessoa (Ele, ou o meu nome, é) que ainda por cima se tornava mais alheio e mais abstracto pela imprecisão parece que. Além disso, a circunstância de ter respondido á Edite com o apelido e não com o meu primeiro nome, o mai cúmplice entre marido e mulher e o único que nos era natural, é outro indício do distanciamento provocado pelo golpe de azar que me destituíra de memória e de passado.
Ele, o Outro. O outro de mim. Em menos de nada, já a Edite falava ao telefone com os médicos sobre esse alguém impessoal que eu estava a começar a ser. Ouvia-a do meio do hall em grande serenidade. Sabia, tenho essa ideia, que alguma coisa se estava a passar comigo, uma coisa oculta, activa, mas nessa altura já principiava a ouvir e a sentir só de passagem, sem registar. (Mesmo assim tinha algum conhecimento da ansiedade que me rodeava; Isto não vai ser nada, creio ter dito à Sylvie quando a descobri no corredor, atenta aos telefonemas da Edite.)
Lembro-me de que essa manhã foi invadida por um aguaceiro desalmado, ouvia-se chuva grossa e pesada lá fora mas deve ter sido passageira porque quando acabou a Edite ainda estava ao telefone. A partir de então tudo o que sei é que me pus ao espelho da casa de banho a barbear-me com a passividade de quem está a barbear um ausente – e foi ali.
Sim, foi ali. Tanto quanto é possível localizar-se uma fracção mais que secreta de vida, foi naquele lugar e naquele instante que eu, frente a frente com a minha imagem no espelho mas já desligado dela, me transferi para um Outro sem nome e sem memória e por consequência incapaz de menor relação passado-presente, de imagem-objecto, do eu com outro alguém ou do real com a visão que o abstracto contém. Ele. O mesmo que a mulher (Edite, chama-se ela mas nada garante que esse homem ainda lhe conheça o nome, que não a considere apenas um facto, uma presença) exacto, esse mesmo Ele, o tal que a Edite irá encontrar, não tarda muito, a pentear-se com uma escova de dentes antes de partirem de urgência para o Hospital de Santa maria e o mesmo que, dias depois, uma enfermeira surpreenderá em igual operação ao espelho do lavatório do quarto.»


José Cardoso Pires, De Profundis, Valsa Lenta