Quem é Alice?
Alice, da história As
Aventuras de Alice no País das Maravilhas, não é uma menina comum. Esta
personagem é muito dinâmica e rica em vida interior. Por detrás desta
personagem existe a conjugação entre traços de inocência, ingenuidade e
curiosidade, tipicamente de uma criança e traços de coragem, racionalização e
autocontrolo, típicos de adultos. Alice tem um comportamento fora do comum logo
no início da história – esta vê um coelho com caraterísticas humanas e a sua
reação não é de espanto nem de admiração, mas sim de o perseguir. Aqui é
mostrada a sua coragem, curiosidade e peculiaridade – para Alice o
extraordinário consiste na ocorrência do comum, e o ‘normal’ tem uma margem tao
ampla que admite acontecimentos extraordinários.
Esta personalidade ‘fora-do-comum’ é novamente mostrada na
queda de Alice. Uma criança ‘comum’ ficaria contaminada de histerismo e terror;
Alice, porém, assume uma posição descontraída ao ponto de pensar em coisas das
quais muito poucas pessoas se lembrariam se estivessem no seu lugar (muito
menos uma criança). Esta descontração demonstra-se praticamente quando retira
um frasco de compota durante a descida e o que a deixa aborrecida, o que afeta
o seu bem-estar psicológico após algo tão estranho, é o facto de o frasco estar
vazio. Outro aspeto que atribui a Alice um caráter peculiar é a racionalização
particular que faz – não atira o frasco para o chão pois tem medo de magoar
alguém. Uma criança, nesta situação, poderia considerar o sítio para onde está
a cair, mas dificilmente pensava na existência de alguém nesse mesmo sítio,
alguém que tivesse percorrido o mesmo caminho.
A sua coragem volta a exibir-se quando bebe o
líquido e come o bolo cujas origens desconhece. É feita novamente uma distinção
inata entre a reação de uma criança normal e a reação de Alice perante algo
incomum – aparece, como que por magia, um bolo em cima da mesa e, em vez de se
questionar acerca da origem do bolo, pensa se o devia ou não comer.
A
inversão do que é normal e extraordinário, segundo Alice, volta a ser evidente
quando fica extremamente surpreendida, no final do primeiro capítulo, quando
algo de normal acontece – come o bolo e não altera imediatamente o seu tamanho.
Um
aspeto que também ajuda a uma caraterização incomum para uma criança, sendo
mais esperado de um adulto, é a constante dúvida que tem acerca da sua identidade.
Questiona-se sobre a sua própria pessoa, o que se intensifica quando não se
reconhece a si própria. Uma criança muito dificilmente teria esta atitude mas
como Alice tem uma visão inversa da realidade (o que para si é comum é a
ocorrência do que é normalmente considerado como extraordinário), questiona-se
não sobre o que a rodeia, onde está, a conceção do sítio onde se encontra e
como a afeta, mas sobre si própria e no que se está a tornar.
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