Texto Autobiográfico: Um Exame de Piano
Existiu um momento na minha vida do qual nunca me vou
esquecer. Este momento foi o meu primeiro exame de piano. Na altura já tocava
piano há quatro anos e a minha professora propôs-me fazer um exame.
Inicialmente não o queria fazer porque ia ficar nervosa mas depois pensei que
seria uma experiencia diferente para evoluir.
Para fazer o exame de primeiro grau da Trinity College London tive de aprender três peças, escalas e
exercícios. Estudei durante meses para aquele dia! Lembro-me de pensar quem
seria a pessoa que me haveria que avaliar ou se a meio da audição fizesse um
erro...bem, nem me lembro se cheguei a fazer algum erro.
Um mês antes do exame existiu uma espécie de simulação,
esta simulação não correu como eu esperava, fiquei muito nervosa e tive de
começar uma das três peças de novo. No dia seguinte passei a maior parte do dia
a estudar essa peça. Na ultima aula antes do exame perguntei à minha professora
como é que seria se errasse alguma nota, ela respondeu que se me enganasse o
melhor era respirar fundo e fingir que não tinha acontecido nada. No final
dessa aula deu-me um último conselho, não tocar piano no dia anterior ao exame.
No dia anterior não tinha dormido muito bem por causa dos
nervos, passei o dia todo a pensar como seria o exame. Nesse dia não toquei no
piano como me foi recomendado. Antes de me ir deitar pensei para mim mesma,
”amanhã por esta hora já fiz o exame”.
No dia do exame acordei, fui para a escola e a meio de uma
aula fui-me embora todos me desejaram boa sorte. A minha mãe foi-me buscar e
fomos diretamente para a minha escola de música. Quando entrei vi logo a minha
professora que me disse que o examinador era muito simpático e sabia falar um
pouco de espanhol. Esperei vinte minutos e a minha mãe fez-me uma traça para o
cabelo não me ir para a cara. Antes de entrar na sala estava muito nervosa, não
me lembro de outro momento na minha vida em que tenha estado tão nervosa.
Quando a minha colega que tinha tido exame antes de mim saiu disse-me que o
examinador era muito simpático e desejou-me boa sorte.
Quando entrei reparei que a sala, que costumava estar cheia
de cadeiras, estava vazia e apenas tinha um piano e uma secretária. A primeira
coisa que ouvi foi um ”bom dia” com um sotaque britânico. Respondi com outro
bom dia e sentei-me em frente ao piano, pus as pautas à minha frente. Comecei
com as três peças, depois algumas da escalas e exercícios. A parte mais difícil
já tinha passado, só faltava o teste oral. Após ter feito tudo, esperei que o
examinador somasse os pontos e me mandasse embora. Pareceu uma eternidade mas
antes de sair perguntou-me se tinha corrido bem
eu respondi que sim e ele respondeu que também achava o mesmo. Sai da
sal e desejei-lhe o resto de um bom dia.
Quando fui ter com a minha mãe e a minha professora a
primeira coisa que fizeram foi perguntar-me como tinha corrido e eu disse que
tinha corrido bem, mas estava quase a chorar. Elas disseram-me para ir lavar a
cara que depois continuava-mos a conversa quando estivesse mais calma. Fui
lavar a cara e quando voltei fui almoçar. Nesse dia tinha tarde livre por isso
fui almoçar fora.
Durante o almoço a minha mãe perguntou-me porque é que
estava quase a chorar depois do exame e respondi que não sabia porque é que
tinha reagido daquela maneira. Hoje acho que foi porque tinha trabalhado tanto
para aquele momento e tinha sido tudo tão rápido. Acho que por vezes os
momentos curtos são tão particulares que passam a ser inesquecíveis pelo seu
significado todo. Aquele momento foi fruto de tanto trabalho como nunca tinha
tido na minha vida.
Senti-me muito orgulhosa no mês seguinte quando soube que
tinha passado com mérito!
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