Belos e malditos
Belos e Malditos, de F.
Scott Fitzgerald, trata a história de um casal, Anthony Patch e Gloria Gilbert.
Anthony, que assume uma posição central no início, foi criado pelo seu avô,
detentor de um grande império, tendo perdido os pais aquando criança. A
personalidade de Anthony encontra um conflito: por um lado, é descrito como um
homem culto, confiante e conquistador, no entanto, interiormente revela-se tão
inseguro e só como era durante a sua adolescência. Anthony não trabalha,
vivendo em Nova Iorque despreocupada e luxuosamente às custas do seu avô. Tem o
medo constante de estar sozinho, ocupando-se de festas. O seu desejo de não
casar muda completamente quando conhece Gloria, por intermédio de um primo dela
que é seu amigo. Gloria Gilbert é uma mulher bela e carismática, abordada e
desejada por todos os homens. O interesse que os homens têm nela advém não só
da sua beleza mas da sua atitude despreocupada e de profundo desinteresse para
com eles. Ao início parecem completamente incompatíveis, mas Anthony acaba por
conquistar Gloria, sendo também conquistado por ela. Casam-se. No início do casamento,
tudo corre bem. Vivem acima das suas possibilidades, dando-se ao luxo de
dividir o ano por duas casas, tendo carro, mordomos, tomando as refeições em
hotéis ou restaurantes e comprando tudo o que desejam. Gloria tem completo
controlo da relação, manipulando facilmente Anthony como se este fosse uma
marioneta. Assim que desvanece a paixão e entusiasmo inicial, o casamento é
tremendamente abalado. Apesar de viverem de forma exuberante em constante
estado de festa, sentem agora a necessidade de se rodearem constantemente de festas,
pessoas, bebidas, entretenimento, pois no fundo sabem que tanto se amam
loucamente como se odeiam perdidamente. No núcleo deste modelo de vida
fantástica está um casamento frágil em que eles não são o suficiente um para o
outro. Tal é agravado por problemas financeiros, muito esperados devido à vida
ociosa que levavam. Enquadram-se numa sociedade de decadência de valores. As
suas atitudes são quase calculadas – não há paixão nem carinho, mas sim
recriminação. Anthony torna-se frio e mais difícil de manipular. Gloria sente
desprezo pelo esposo, desejando primeiramente a perenidade da sua beleza,
dinheiro e um vida confortável. Este constitui o amor tóxico entre eles.
Toda a esperança de um futuro reside no desejo
patológico de herdarem a fortuna do avô de Anthony, o moralista Adam Patch,
após a sua morte. Ambos caem na vulgaridade, perdem a vida interior com que se
seduziram mutuamente.
Quando Anthony regressa do treino militar que teve
durante um ano (formação para a 1ª Guerra Mundial), há um temporário regresso
ao casal que eram no início. Porém, acabam por cair num casamento perdido que é
agravado pelos sérios problemas financeiros, especialmente após não receberem
nada da fortuna do avô, que entretanto morrera e deserdara o neto. De Anthony
apodera-se um alcoolismo profundo e de Gloria uma depressão não só pela descida
social que sofreram mas pela relação de desprezo e repugno que tem com Anthony.
Após um demorado processo contra o mordomo do avô
de Adam, que recebera a maior parte da fortuna, finalmente conseguiram
recuperar a fortuna a que sempre atribuíam prerrogativas falsas. No entanto,
tal não salva a relação. Anthony está perdido, louco. Este é o culminar de sete
anos de casamento exuberante.
A partir da leitura da obra é-nos possível concluir
que em cem anos muito evoluiu no mundo mas pouco evoluiu no comportamento do
ser humano.
Tal mostra uma constante presente no Homem. Essa
constante passa muito pela perdição que o ser humano encontra no amor. Essa
perdição constitui a grande fragilidade do ser humano – o facto de que o amor
pode trazer a maior felicidade na vida mas também a maior desilusão, tristeza e
miséria. É assustador para o ser humano a noção de que a sua felicidade, que
condiciona toda a sua existência, depende de outra pessoa (ou outras pessoas) –
não controlamos a nossa felicidade porque não conseguimos controlar as nossas
emoções; sempre assim o foi. A nossa maior fragilidade é congruente com o maior
contentamento que podemos ter na vida – o amor.
Também é possível ser extraída uma lição sobre a
ganância doentia que resulta da ambição descabida de esforço, sustentada por
esperanças. A ambição associada ao esforço pode ser saudável mas, neste caso,
residia no destino de outrem. Não é assim que devemos viver.
Tal como o dinheiro não faz a felicidade, não pode
recuperar algo desmoronado – mesmo quando receberam a herança, não havia
esperança para aquele casamento tumultuoso e inconstante.
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