segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Belos e malditos, Fitzgerald

Belos e malditos
Belos e Malditos, de F. Scott Fitzgerald, trata a história de um casal, Anthony Patch e Gloria Gilbert. Anthony, que assume uma posição central no início, foi criado pelo seu avô, detentor de um grande império, tendo perdido os pais aquando criança. A personalidade de Anthony encontra um conflito: por um lado, é descrito como um homem culto, confiante e conquistador, no entanto, interiormente revela-se tão inseguro e só como era durante a sua adolescência. Anthony não trabalha, vivendo em Nova Iorque despreocupada e luxuosamente às custas do seu avô. Tem o medo constante de estar sozinho, ocupando-se de festas. O seu desejo de não casar muda completamente quando conhece Gloria, por intermédio de um primo dela que é seu amigo. Gloria Gilbert é uma mulher bela e carismática, abordada e desejada por todos os homens. O interesse que os homens têm nela advém não só da sua beleza mas da sua atitude despreocupada e de profundo desinteresse para com eles. Ao início parecem completamente incompatíveis, mas Anthony acaba por conquistar Gloria, sendo também conquistado por ela. Casam-se. No início do casamento, tudo corre bem. Vivem acima das suas possibilidades, dando-se ao luxo de dividir o ano por duas casas, tendo carro, mordomos, tomando as refeições em hotéis ou restaurantes e comprando tudo o que desejam. Gloria tem completo controlo da relação, manipulando facilmente Anthony como se este fosse uma marioneta. Assim que desvanece a paixão e entusiasmo inicial, o casamento é tremendamente abalado. Apesar de viverem de forma exuberante em constante estado de festa, sentem agora a necessidade de se rodearem constantemente de festas, pessoas, bebidas, entretenimento, pois no fundo sabem que tanto se amam loucamente como se odeiam perdidamente. No núcleo deste modelo de vida fantástica está um casamento frágil em que eles não são o suficiente um para o outro. Tal é agravado por problemas financeiros, muito esperados devido à vida ociosa que levavam. Enquadram-se numa sociedade de decadência de valores. As suas atitudes são quase calculadas – não há paixão nem carinho, mas sim recriminação. Anthony torna-se frio e mais difícil de manipular. Gloria sente desprezo pelo esposo, desejando primeiramente a perenidade da sua beleza, dinheiro e um vida confortável. Este constitui o amor tóxico entre eles.
Toda a esperança de um futuro reside no desejo patológico de herdarem a fortuna do avô de Anthony, o moralista Adam Patch, após a sua morte. Ambos caem na vulgaridade, perdem a vida interior com que se seduziram mutuamente.
Quando Anthony regressa do treino militar que teve durante um ano (formação para a 1ª Guerra Mundial), há um temporário regresso ao casal que eram no início. Porém, acabam por cair num casamento perdido que é agravado pelos sérios problemas financeiros, especialmente após não receberem nada da fortuna do avô, que entretanto morrera e deserdara o neto. De Anthony apodera-se um alcoolismo profundo e de Gloria uma depressão não só pela descida social que sofreram mas pela relação de desprezo e repugno que tem com Anthony.
Após um demorado processo contra o mordomo do avô de Adam, que recebera a maior parte da fortuna, finalmente conseguiram recuperar a fortuna a que sempre atribuíam prerrogativas falsas. No entanto, tal não salva a relação. Anthony está perdido, louco. Este é o culminar de sete anos de casamento exuberante.

A partir da leitura da obra é-nos possível concluir que em cem anos muito evoluiu no mundo mas pouco evoluiu no comportamento do ser humano.
Tal mostra uma constante presente no Homem. Essa constante passa muito pela perdição que o ser humano encontra no amor. Essa perdição constitui a grande fragilidade do ser humano – o facto de que o amor pode trazer a maior felicidade na vida mas também a maior desilusão, tristeza e miséria. É assustador para o ser humano a noção de que a sua felicidade, que condiciona toda a sua existência, depende de outra pessoa (ou outras pessoas) – não controlamos a nossa felicidade porque não conseguimos controlar as nossas emoções; sempre assim o foi. A nossa maior fragilidade é congruente com o maior contentamento que podemos ter na vida – o amor.
Também é possível ser extraída uma lição sobre a ganância doentia que resulta da ambição descabida de esforço, sustentada por esperanças. A ambição associada ao esforço pode ser saudável mas, neste caso, residia no destino de outrem. Não é assim que devemos viver.

Tal como o dinheiro não faz a felicidade, não pode recuperar algo desmoronado – mesmo quando receberam a herança, não havia esperança para aquele casamento tumultuoso e inconstante. 

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